Adoção no Brasil: Caminhos, Desafios e Avanços na Formação de Novas Famílias

Entenda como a adoção tem se transformado no país com mudanças legais, avanços psicológicos e inclusão social

A adoção é uma alternativa legítima e afetiva de formar uma família. No Brasil, o processo é legalmente regulamentado, mas ainda enfrenta desafios sociais, emocionais e burocráticos. Adotar vai além de um ato jurídico: é um processo de vínculo afetivo, de aceitação e construção emocional. Este artigo aborda os principais desafios da adoção, os avanços nas políticas públicas e nos tratamentos psicológicos, além das perspectivas atuais para famílias adotivas.

Panorama Atual da Adoção no Brasil

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mais de 30 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos, mas apenas cerca de 5 mil estão disponíveis para adoção. O motivo desse número reduzido está nas especificações de perfis exigidos pelos adotantes, muitas vezes voltados a bebês, de pele clara e sem irmãos. Já a maioria das crianças disponíveis tem mais de 7 anos, pertence a grupos de irmãos ou apresenta condições de saúde.

Esse descompasso entre desejo e realidade é um dos principais entraves do processo. A adoção é, muitas vezes, idealizada, o que leva à frustração e desistência em alguns casos. Por isso, preparação emocional e orientação técnica são fundamentais.

O Processo Legal de Adoção

A adoção é regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O processo envolve:

  1. Inscrição dos interessados no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento.
  2. Avaliação psicossocial e jurídica por equipes técnicas do Judiciário.
  3. Participação em cursos de preparação para adoção.
  4. Espera por compatibilidade de perfil com a criança ou adolescente.
  5. Estágio de convivência, com acompanhamento técnico.
  6. Sentença judicial de adoção, que garante os direitos legais da criança.

Esse processo pode levar meses ou anos, dependendo do perfil desejado e da região do país.

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Desafios Emocionais na Adoção

A adoção envolve profundas questões emocionais para todas as partes: adotantes, adotados e, quando presentes, as famílias biológicas. Entre os principais desafios estão:

  • Construção do vínculo afetivo, que pode levar tempo.
  • Resistência da criança ao novo ambiente, especialmente se houve traumas anteriores.
  • Medo do abandono, tanto por parte da criança quanto dos pais.
  • Identidade e pertencimento, especialmente na adolescência.

A expectativa de “amor imediato” nem sempre corresponde à realidade. Por isso, o acompanhamento psicológico é essencial antes, durante e depois da adoção.

Avanços nos Tratamentos Psicológicos

A psicologia tem papel central no sucesso da adoção. Os tratamentos modernos focam na criação de vínculos seguros e no manejo das dificuldades emocionais comuns nesse processo. Entre os avanços mais relevantes estão:

1. Terapia de Vinculação (Attachment Therapy)

Trabalha a relação entre pais e filhos, ajudando na construção de um apego seguro e no enfrentamento de traumas relacionados ao abandono e institucionalização.

2. Psicoterapia Infantil com Enfoque Narrativo

Permite que a criança reestruture sua história de vida com apoio, reforçando sua autoestima e ajudando a entender a nova estrutura familiar.

3. Grupos Terapêuticos Familiares

Espaços onde famílias adotivas compartilham experiências, orientados por profissionais. Esses grupos reduzem o isolamento emocional e fortalecem o vínculo familiar.

Adoção Tardia: Uma Realidade a Ser Enfrentada

A adoção tardia, que envolve crianças maiores de 7 anos ou adolescentes, ainda enfrenta resistência dos pretendentes, mas é um dos caminhos mais urgentes e necessários. Muitas dessas crianças já viveram situações de abandono, violência ou negligência e precisam de acolhimento com paciência e suporte especializado.

Algumas estratégias para facilitar a adoção tardia incluem:

  • Programas de apadrinhamento afetivo, como forma de aproximação inicial.
  • Incentivos à adoção de grupos de irmãos, com apoio psicológico e educacional.
  • Campanhas públicas que mostrem histórias reais de sucesso na adoção tardia.
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Avanços Legais e Políticas Públicas

Nos últimos anos, houve importantes melhorias legais no processo de adoção, com destaque para:

  • Digitalização e unificação do Sistema Nacional de Adoção, que permite mais agilidade na busca de compatibilidade.
  • Criação de cursos obrigatórios para habilitação à adoção, com conteúdo psicológico e jurídico.
  • Adoção por casais homoafetivos e pessoas solteiras, que foi legalmente reconhecida e tem crescido nos últimos anos.

Além disso, o Judiciário tem atuado com maior rigor na redução do tempo de institucionalização, garantindo o direito da criança a viver em família.

Adoção Internacional

A adoção internacional segue diretrizes mais rígidas e depende de acordos entre países. Ela só é permitida quando todas as possibilidades nacionais foram esgotadas. Embora menos frequente, continua sendo uma solução para crianças com maior vulnerabilidade social e baixa chance de adoção no país.

O Brasil integra a Convenção de Haia, que garante critérios de segurança e ética no processo. O acompanhamento psicológico é obrigatório e contínuo para garantir a adaptação da criança ao novo contexto cultural e familiar.

Adoção e Inclusão Social

A adoção também é um instrumento de justiça social. Crianças negras, com deficiência, ou que pertencem a grupos de irmãos são, muitas vezes, invisibilizadas no sistema. A promoção da adoção inclusiva é um passo essencial para transformar realidades.

Campanhas públicas, formação de profissionais e conscientização social são estratégias que têm mostrado resultados positivos na ampliação do perfil desejado pelos adotantes.

Considerações Finais

A adoção no Brasil está em processo constante de evolução. Apesar dos desafios emocionais, legais e sociais, os avanços são visíveis e oferecem esperança para milhares de crianças e famílias. Com mais preparo emocional, políticas públicas eficazes e menos idealizações, a adoção pode ser uma experiência transformadora para todos os envolvidos.

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O foco deve estar no direito da criança a viver em família, com amor, cuidado e estabilidade. A adoção não é um ato de caridade, mas de compromisso afetivo, ético e humano.

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