Por Que Algumas Pessoas Se Cortam? Compreendendo a Automutilação na Perspectiva Psicológica
Entenda os motivos emocionais e mentais por trás da automutilação e os principais caminhos de tratamento e acolhimento psicológico
A automutilação, especialmente o ato de se cortar intencionalmente, é um fenômeno psicológico complexo e crescente, principalmente entre adolescentes e jovens adultos. Esse comportamento autolesivo, embora muitas vezes silencioso, é um sinal de sofrimento emocional profundo. Ao contrário do que se pensa, cortar-se nem sempre indica tentativa de suicídio. Na maioria dos casos, é uma forma desesperada de lidar com dores emocionais que a pessoa não sabe expressar de outra maneira. Compreender as causas psicológicas, os fatores de risco e os avanços no tratamento é essencial para acolher e oferecer apoio real a quem passa por isso.

O Que É Automutilação?
Automutilação é qualquer comportamento intencional que causa dano físico ao próprio corpo, sem a intenção de morrer. O corte é a forma mais comum, mas também há casos de queimaduras, arranhões profundos, socos contra superfícies duras ou bater a cabeça repetidamente.
Esse comportamento é classificado como um mecanismo de enfrentamento disfuncional, que busca alívio temporário para emoções difíceis de suportar. É uma forma de transformar dor emocional em dor física, na tentativa de recuperar algum tipo de controle interno.
Por Que Muitas Pessoas Se Cortam?
Existem várias razões psicológicas pelas quais uma pessoa pode recorrer ao corte como forma de automutilação. A seguir, explicamos os principais motivos identificados em estudos clínicos e pesquisas psicológicas.
1. Alívio Emocional Imediato
A maioria das pessoas que se automutila relata que sente um alívio instantâneo após o corte. Isso ocorre porque a dor física pode, por alguns minutos, desviar o foco da angústia emocional. A liberação de endorfinas após a lesão também pode provocar uma sensação momentânea de bem-estar.
2. Dificuldade em Expressar Emoções
Muitas pessoas não sabem como colocar em palavras aquilo que sentem. A automutilação surge como uma forma concreta de externalizar dor, raiva, medo, frustração ou vazio.
3. Sentimento de Desconexão ou Vazio
Em quadros depressivos ou transtornos de personalidade, o indivíduo pode se sentir emocionalmente “desligado” do mundo e até de si mesmo. O corte funciona como uma tentativa de “sentir algo”, mesmo que seja dor.
4. Autopunição
Pessoas com baixa autoestima ou com sentimento de culpa excessivo podem se cortar como forma de se punir por erros reais ou imaginários.
5. Influência Social e Grupos Online
Ambientes digitais onde a automutilação é romantizada ou normalizada podem incentivar comportamentos imitativos, principalmente entre adolescentes que buscam pertencimento ou visibilidade.
6. Histórico de Abuso ou Trauma
Muitos indivíduos que se automutilam passaram por situações traumáticas, como abuso físico, emocional ou sexual. O corte surge como uma forma de lidar com memórias ou sentimentos intrusivos.
Fatores de Risco
A automutilação raramente é um comportamento isolado. Diversos fatores podem aumentar o risco, incluindo:
- Transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno de personalidade borderline, transtorno bipolar e TEPT;
- Ambientes familiares negligentes ou abusivos;
- Histórico de bullying ou exclusão social;
- Uso de álcool ou drogas;
- Falta de apoio emocional e escuta qualificada.
O início geralmente ocorre na adolescência, fase marcada por instabilidade emocional, pressão social e busca de identidade.
Sintomas e Sinais de Alerta
Identificar os sinais precocemente é essencial. Alguns comportamentos indicativos incluem:
- Uso frequente de roupas compridas, mesmo em calor, para esconder feridas;
- Feridas, arranhões ou cicatrizes inexplicáveis;
- Isolamento repentino ou retraimento emocional;
- Irritabilidade, mudanças de humor ou episódios de choro frequente;
- Evitação de contato físico e visual;
- Presença de lâminas, tesouras ou objetos cortantes escondidos.
Avanços no Tratamento Psicológico
Nos últimos anos, a psicologia avançou no entendimento e abordagem da automutilação. O tratamento é possível e eficaz, especialmente quando há escuta empática, vínculo terapêutico e técnicas estruturadas.
1. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A TCC é uma das abordagens mais recomendadas. Ajuda a:
- Identificar gatilhos emocionais para a automutilação;
- Trabalhar pensamentos disfuncionais;
- Substituir o comportamento de corte por estratégias mais saudáveis de regulação emocional.
2. Terapia Dialética Comportamental (DBT)
Criada especificamente para tratar transtornos com instabilidade emocional e autolesão, a DBT ensina habilidades de mindfulness, tolerância à angústia, regulação emocional e assertividade.
3. Psicoterapia Psicodinâmica
Foca em traumas e conflitos inconscientes que estão na origem da dor emocional. Ajuda a ressignificar experiências e fortalecer a identidade emocional.
4. Grupos de Apoio e Terapia Familiar
A inclusão da família ou participação em grupos terapêuticos pode fortalecer a rede de apoio e reduzir recaídas, além de ampliar a compreensão do problema.
5. Acompanhamento Psiquiátrico
Em casos graves, pode ser necessário o uso de medicamentos antidepressivos ou estabilizadores de humor, sempre com prescrição e acompanhamento médico.
Alternativas Saudáveis ao Corte
Parte do tratamento envolve o desenvolvimento de estratégias substitutivas. Algumas práticas recomendadas são:
- Apertar uma bola de borracha ou cubo de gelo;
- Escrever ou desenhar sobre o que sente;
- Praticar exercícios físicos;
- Respirar profundamente e meditar;
- Conversar com alguém de confiança.
Essas técnicas ajudam o indivíduo a regular emoções sem causar dano físico.
Considerações Finais
A automutilação é um pedido silencioso de ajuda. Cortar-se não é um gesto de fraqueza ou manipulação, mas um sinal de dor emocional intensa que precisa ser acolhida com empatia, escuta e tratamento especializado. Quanto antes for identificado o comportamento, maiores são as chances de superação.
Ninguém precisa passar por isso sozinho. Buscar ajuda profissional é o primeiro passo para encontrar formas mais saudáveis de lidar com emoções difíceis e recuperar o equilíbrio emocional.
Olá, me chamo Manoel. Além de ser formado em Psiquiatria e Psicologia tenho um compromisso constante com a atualização e precisão do conhecimento. Minha abordagem profissional é fundamentada em um rigoroso processo de pesquisa e validação de informações, utilizando fontes conceituadas e internacionais para garantir que o conteúdo que compartilho seja tanto relevante quanto baseado em evidências.
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