Terapia Focada na Compaixão: Entenda Como Funciona e Seus Benefícios no Tratamento Psicológico
Descubra o que é a Terapia Focada na Compaixão, como ela age no cérebro, seus benefícios para saúde mental e os avanços recentes no tratamento de transtornos emocionais
A Terapia Focada na Compaixão (CFT) é uma abordagem psicoterapêutica desenvolvida para ajudar pessoas com altos níveis de autocrítica, vergonha e culpa. Criada pelo psicólogo britânico Paul Gilbert, essa terapia combina princípios de várias tradições da psicologia — incluindo a psicologia evolutiva, neurociência e terapia cognitivo-comportamental — para promover a autocompaixão como recurso de cura.

Nos últimos anos, essa abordagem tem ganhado destaque por sua eficácia no tratamento de transtornos mentais complexos, como transtorno de personalidade borderline, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e depressão resistente. A seguir, exploramos como ela funciona, sua base científica e as evidências que sustentam seu uso clínico.
O que é a Terapia Focada na Compaixão?
A CFT é uma abordagem que ajuda o paciente a desenvolver sentimentos de cuidado, acolhimento e gentileza consigo mesmo, em vez de alimentar padrões mentais de autocrítica e punição. Essa técnica parte da ideia de que muitas dificuldades emocionais surgem de desequilíbrios nos sistemas de regulação emocional do cérebro, especialmente entre três sistemas principais:
- Sistema de ameaça (medo, raiva, fuga)
- Sistema de busca de recompensas (motivação, prazer)
- Sistema de calma e afiliação (segurança, conexão)
Pessoas que viveram traumas ou negligência afetiva na infância tendem a ter o sistema de ameaça mais ativado, dificultando o acesso a estados mentais de tranquilidade e autocuidado. A CFT trabalha justamente para fortalecer o sistema de calma, promovendo emoções ligadas à segurança interna e compaixão.
Como funciona a Terapia Focada na Compaixão?
A terapia utiliza exercícios práticos, imaginação guiada, respiração compassiva e técnicas comportamentais que ensinam o paciente a responder aos próprios sentimentos com compreensão, e não com julgamento.
Algumas das práticas centrais incluem:
- Construção do Eu Compassivo: o paciente imagina uma versão mais sábia e amorosa de si mesmo que pode oferecer apoio em momentos difíceis.
- Exercícios de compaixão para com os outros: ajudam a despertar empatia e a conexão social.
- Desenvolvimento do diálogo interno compassivo: transformar pensamentos autocríticos em pensamentos mais equilibrados e compreensivos.
- Treino de regulação emocional: identificar o sistema emocional predominante e cultivar equilíbrio entre eles.
Essa estrutura é aplicada em sessões semanais, geralmente em formatos individuais ou em grupo, com duração variável entre 8 a 20 encontros.
Base científica da Terapia Focada na Compaixão
A CFT tem sido validada em diversas pesquisas científicas que apontam sua eficácia. Estudos mostram que ela reduz significativamente níveis de:
- Depressão
- Ansiedade
- Vergonha internalizada
- Estresse crônico
Em neuroimagem, observou-se que os exercícios de compaixão ativam áreas cerebrais como o córtex pré-frontal medial, córtex cingulado anterior e insular anterior, regiões associadas ao autocontrole emocional e empatia.
Além disso, há aumento na variabilidade da frequência cardíaca (HRV), indicador fisiológico de maior resiliência emocional e capacidade de autorregulação.
Benefícios comprovados da Terapia Focada na Compaixão
A CFT se destaca por ser especialmente eficaz em pacientes que não respondem bem a terapias convencionais. Entre os principais benefícios observados estão:
- Redução da autocrítica paralisante
- Aumento da autoaceitação
- Melhora nos sintomas de transtorno alimentar
- Apoio no tratamento de ideação suicida
- Reestruturação da autoimagem negativa
- Estímulo ao altruísmo e vínculos interpessoais saudáveis
Pacientes relatam maior bem-estar, senso de pertencimento e habilidade para lidar com emoções difíceis sem se julgar.
Avanços recentes no uso da CFT
Diversos estudos recentes apontam novos caminhos para a aplicação da CFT em contextos clínicos variados. Alguns avanços incluem:
- Uso em contextos hospitalares e paliativos: ajudando pacientes com dor crônica e doenças terminais a lidar com sofrimento físico e emocional.
- Aplicação no ambiente educacional: promovendo a regulação emocional em adolescentes com histórico de bullying e exclusão.
- CFT em formato digital: com aplicativos e atendimentos online para ampliar o acesso.
- Integração com mindfulness e terapias de aceitação: criando modelos híbridos mais eficazes.
- CFT adaptada para populações específicas, como vítimas de violência doméstica, imigrantes em situação de luto e profissionais de saúde com burnout.
A tendência é que a CFT continue se expandindo à medida que mais profissionais sejam capacitados e estudos de longo prazo validem seus efeitos positivos.
Considerações finais
A Terapia Focada na Compaixão é uma ferramenta poderosa para quem sofre com padrões emocionais autodestrutivos. Ela oferece uma abordagem inovadora e acolhedora baseada em ciência sólida, com resultados eficazes no tratamento de diversas condições psicológicas. Com o fortalecimento da autocompaixão, pacientes desenvolvem maior equilíbrio interno, capacidade de resiliência e qualidade nas relações interpessoais.
A disseminação da CFT representa uma mudança de paradigma na psicologia contemporânea: sair do julgamento e da correção de sintomas, para cultivar recursos internos de cuidado e segurança emocional. A ciência mostra que ser compassivo consigo mesmo não é fraqueza — é força psicológica em ação.
Olá, me chamo Manoel. Além de ser formado em Psiquiatria e Psicologia tenho um compromisso constante com a atualização e precisão do conhecimento. Minha abordagem profissional é fundamentada em um rigoroso processo de pesquisa e validação de informações, utilizando fontes conceituadas e internacionais para garantir que o conteúdo que compartilho seja tanto relevante quanto baseado em evidências.
Publicar comentário